quarta-feira, 12 de julho de 2017

Reflexão de hoje: O elogio da Abelha

Grande mosca verde-azul, mostrando envaidecida as asas douradas pelo Sol, penetrou uma sala e encontrou uma abelha humilde a carregar pequena provisão de recursos para elaborar o mel.

A mosca arrogante aproximou-se e falou, vaidosa:

- Onde surges, todos fogem. Não te sentes indesejável? Teu aguilhão é terrível.

- Sim - disse a abelha com desapontamento -, creia que sofro muitíssimo quando sou obrigada a interferir.

Minha defesa é, quase sempre, também a minha morte.

- Mas não podes viver com mais distinção e delicadeza? - tornou a mosca - porque ferroar, a torto e a direito?

- Não, minha amiga - esclareceu a interlocutora - não é bem assim. Não sinto prazer em perturbar. Vivo tão somente para o trabalho que Deus me confiou, que representa benefício geral. E, quando alguém me impede a execução do dever, inquieto-me e sofro, perdendo, por vezes, a própria vida.

- Creio, porém, que se tivesses modos diferentes... se polisses as asas para que brilhassem à claridade solar, se te vestisses em cores iguais às minhas, talvez não precisasses alarmar a ninguém. Pessoa alguma te recearia a intromissão.

- Ah! não posso despender muito tempo em tal assunto - alegou a abelha criteriosa. O serviço não me permite a apresentação exterior muito primorosa, em todas as ocasiões. A produção de mel indispensável ao sustento de nossa colméia, e necessária a muita gente, não me oferece ensejo a excessivos cuidados comigo mesma.

- Repara! - disse-lhe a mosca, desdenhosa - tuas patas estão em lastimável estado...

- Encontro-me em serviço - explicou-se a operária humildemente.

Não! não! - protestou a outra - isto é monturo e relaxamento.

E limpando caprichosamente as asas, a mosca recuou e aquietou-se, qual se estivesse em observação.

Nesse instante, duas senhoras e uma criança penetraram o recinto e, notando a presença da abelha que buscava sair ao encontro de companheiras distantes, uma das matronas gritou, nervosa:

- Cuidado! cuidado com a abelha! Fere sem piedade!...

A pequenina trabalhadora alada dirigiu-se para o campo e a mosca soberba passou a exibir-se, voando despreocupada.

- Que maravilha! - exclamou uma das senhoras.

- Parece uma jóia! - disse a outra.

A mosca preguiçosa planou... planou... e, encaminhando-se para a copa, penetrou o guarda-comida, deitando varejeiras na massa dos pastéis e em pratos diversos que se preparavam para o dia seguinte. Acompanhou a criança, de maneira imperceptível, e pousou-lhe na cabeça, infeccionando certa região que se achava ligeiramente ferida.

Decorridas algumas horas, sobravam preocupações para toda a família.

A encantadora mosca verde-azul deixara imundície e enfermidade por onde passara.

Quantas vezes sucede isto mesmo, em plena vida?

Há criaturas simples, operosas e leais, de trato menos agradável, à primeira vista, que, à maneira da abelha, sofrem sarcasmos e desapontamentos por bem cumprir a obrigação que lhes cabe, em favor de todos; e há muita gente de apresentação brilhante, quanto a mosca, e que, depois de seduzir-nos a atenção pela beleza da forma, nos deixa apenas as larvas da calúnia, da intriga, da maldade, da revolta e do desespero no pensamento.

Neio Lucio
Psicografia de Francisco Cândido Xavier

Livro: Alvorada Cristã

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