terça-feira, 14 de julho de 2015

ANTE OS QUE PARTIRAM

Nenhum sofrimento na Terra, será talvez comparável ao daquele coração que se debruça sobre outro coração regelado e querido que o ataúde transporta para o grande silêncio.

Ver a névoa da morte estampar-se, inexorável na fisionomia dos que mais amamos e cerrar-lhe os olhos no adeus indescritível, é como despedaçar a própria alma e prosseguir vivendo.

Digam aqueles que já estreitaram de encontro ao peito um filhinho transfigurado em anjo da agonia; um esposo que se despede, procurando debalde mover os lábios mudos; uma companheira, cujas mãos consagradas á ternura pendem extintas; um amigo que tomba desfalecente para não mais se erguer, ou um semblante exprimir senão a dor da extrema separação, através da última lágrima.

Falem aqueles que um dia se inclinaram esmagados de solidão, á frente de um túmulo; os que se rojaram em prece nas cinzas que recobrem a derradeira recordação dos entes inesquecíveis; os que caíram varados de saudade, carregando no seio o esquife dos próprios sonhos; os que tatearam, gemendo, a lousa imóvel e os que soluçam de angústia no ádito dos próprios pensamentos, perguntando em vão pela presença dos que partiram.

Todavia quando semelhante provação te bata á porta reprime o desespero e dilui a corrente da mágoa na fonte viva da oração, porque os chamados mortos são apenas ausentes e as gotas de teu pranto lhes fustigam a alma como a chuva de fel.

Também eles pensam e lutam, sentem e choram.

Atravessam a faixa do sepulcro como quem se desvencilha da noite mas na madrugada do novo dia, inquietam-se pelos que ficaram...Ouve-lhes os gritos e as súplicas na onda mental que rompe a barreira da grande sombra e tremem cada vez que os laços afetivos da retaguarda se rendem à inconformação ou se voltam para o suicídio.

Estimulam-te á prática do bem, partilhando-te as dores e as alegrias.

Rejubilam-se com as tuas vitórias no mundo interior e consolam-te nas horas amargas para que te não percas no frio de desencanto.

Tranquiliza, desse modo, os companheiros que demandam o Além, suportando corajosamente a despedida temporária e honra-lhes a memória, abraçando com nobreza os deveres que te legaram.

Recorda que, em futuro mais próximo que imaginas, respirarás entre eles comungando-lhes as necessidades e os problemas, porquanto terminarás também a própria viagem no mar das provas redentoras.

E vencendo para sempre o terror da morte, não nos será lícito esquecer de Jesus, o nosso Divino Mestre e Herói do Túmulo Vazio, nasceu na noite escura, viveu entre os infortúnios da Terra, e espirou na cruz, em tarde pardacenta, sobre o monte empedrado, mas ressuscitou aos cânticos da manhã no fulgor de um jardim.

Emmanuel

Francisco Cândido Xavier

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