As palavras de Elizabete Salgado muito me ajudaram na época
em que perdi o grande amor de minha vida, meu marido Lúcio Gusman em 17 de
junho de 2002. Tais palavras fizeram-me situar no tempo e compreender a
situação real na qual eu estava vivendo. Aceitar o sofrimento através das fases
da perda. Hoje após 10 anos sem ele, sinto a realidade, porém de uma forma bem
tranquila.
Confira o que aprendi com a autora:
A vivência
de perdas é mais do que a vivência de
uma dor, enquanto estado, é a vivência de um processo emocional de luto.
É processo
porque passamos por três fases de mudança, durante a elaboração de nosso
sofrimento:
- A primeira fase é a do choque, da apatia e de uma sensação de descrença, quando tentamos negar que o que aconteceu seja verdade, seja real. É quando pensamos que “Isto não pode estar acontecendo!” ou “Não, não é possível!”
É a fase das
lamentações. Podemos chorar ou ficar sentados em silêncio, podemos nos alternar
em períodos de dor e de atônita incompreensão. Essa fase costuma ser mais curta
que as demais, pois corresponde, como foi dito, a um impacto inicial perante a
perda.
2. A segunda
fase é mais longa e de intenso sofrimento psíquico. Aqui se toma realmente
consciência da perda e da dor aguda.
Choramos e
nos lamentamos. Há uma sensação de vazio. Temos mudanças bruscas de
temperamento e nos queixamos de desconfortos físicos, como distúrbios de
alimentação e de sono, às vezes alguns distúrbios psicossomáticos associados à
dor física, perda de interesse pelas companhias ou atividades costumeiras,
perda da qualidade nas atividades profissionais, perda do prazer de viver...
Passamos por
momentos que se alternam entre extremo desânimo e outros de atividade
exagerada, momentos de uma regressão a um estágio mais carente, onde nosso
coração e nosso corpo parecem expressar um só pedido: “Ajude-me !“ “Como irei
viver agora?”
É a fase da
ansiedade pela perda e separação. É a fase do desespero e também da raiva, do
desamparo, do abandono, do medo, da impotência (tal qual a criança sente ao ver
que a mãe foi embora), da culpa (irracional ou justificada) e da idealização
(em caso de morte). Mas, nada é para
sempre...E, como nada é eterno, também um dia, chegará a fase final.
3. A fase
“final” do luto só acontece depois que tenhamos
passado pelo terror, pelas lágrimas, pela raiva e culpa, pela ansiedade
e o desespero da etapa anterior. Só acontece, depois que consigamos passar
pelos confrontos com as perdas inaceitáveis.
Algumas vezes,
poderemos ainda chorar e sentir a falta, mas estamos iniciando uma fase de
recuperação, onde se dá a elaboração do luto e do trauma da perda, através de
sua aceitação e adaptação à nova realidade.
Recuperamos
a estabilidade, a energia, a esperança e a capacidade para ter prazer e
investir na vida, restabelecendo um estado de saúde.
Passamos a
aceitar a realidade como algo imutável, sabendo que nada será como antes. Nesse
momento, é então possível perceber que a
perda sofrida nos trouxe um ganho, algo que aprendemos, algo que conquistamos e
que nos fortalece de algum modo.
Aquilo que,
antes, a dor não nos permitia perceber, agora, pela aceitação da realidade e do
que não temos mais, torna-se verdade:
Toda perda traz
um ganho. Perdas e ganhos são faces companheiras da mesma moeda da vida.
Elisabeth
Salgado
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